
Há verões que nunca acabam. Ou talvez seja a Figueira que não nos deixa sair dele. Voltamos à terra onde o vento aplica a exfoliação natural, a estrada do Enforca-Cães, agora lisinha, continua a cheirar a infância. A Casa dos Cogumelos ainda espreita lá ao longe, tão misteriosa como sempre, como se soubesse segredos que nós só suspeitamos.
Comer pela Figueira é desporto radical. As pizzarias discutem entre si quem tem o pior nome, a pizza mais alta ou a esplanada mais minúscula. As hamburguerias são viagens no tempo: umas nunca fecham, outras nunca sabemos se abrem, e há sempre um cone de batata frita atolado em molho a lembrar-nos que fast food pode ser arte, se tiver história.
Peixe fresco existe – mas é preciso sorte, paciência e ouvidos de ferro para aguentar os impropérios que voam da cozinha. Petiscos também, mas nem sempre sabemos se estamos num restaurante, numa tasca ou numa prova de resistência etílica. E há sítios onde a carta de vinhos vale mais que a ementa, e a carne sabe a redenção.
No fim, é sempre igual: marisco aos molhos, areia na toalha, um vento que parece pessoalmente ofendido connosco… e aquela sensação de que a Figueira é um lugar onde tudo muda para que continue exatamente na mesma – e onde, apesar de tudo, já estamos a pensar quando voltamos.
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